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Sobre selfies e autorretratos


Há quase um ano, participei de um pequeno e brevíssimo micro curso preparatório para um concurso de fotografia de rua. O tema escolhido era Vivian Maier, a reclusa e pouco conhecida babá fotógrafa que deixou um legado fotográfico fora do normal.

Mas o que me chamou a atenção foi um instante da palestra.

Lá pelas tantas, o professor/palestrante desatou a falar dos autorretratos que Maier fez, entre um passeio e outro pelas ruas de Los Angeles. E levantou uma questão: qual é a diferença entre o selfie e o autorretrato?

Vivian Maier fazendo um selfie conceitual... ou autorretrato?

O selfie é um fenômeno fotográfico dos tempos recentes. Acredito que, a despeito de sua “descartabilidade” (perdão pelo neologismo sem noção!) e do seu alto grau de periculosidade, o selfie é um retrato de uma sociedade orientada pelas redes sociais, pela exposição fácil da nossa intimidade e pela tecnologia fotográfica cada vez mais simples de usar.

E cada vez mais fácil de banalizar. Mas esse é outro assunto.

O autorretrato é mais complexo. Primeiro porque esse tipo de registro, geralmente, demanda mais planejamento para ser feito. Existe a necessidade de um contexto e de um conceito, ou seja, a cara do fotógrafo deve estar, necessariamente, emoldurada em algo ou em alguma situação que tenha relevância conceitual para ele.

Otto Stupakoff muito bem autorretratado

O selfie é mais simples. É mais do que um comunicado de #partiubalada, como expliquei no início do texto, mas serve de recado visual para quem precisa comunicar algo com mais agilidade e sem muita firula. Por isso, a durabilidade da sua informação é bem menor que a do autorretrato. Portanto, serve muito bem para as redes sociais.

Toda a fotografia que envolve pessoas envolve também o ego e as expectativas que temos com a nossa imagem. Quando a pessoa se retrata, seja com um celular diante do espelho ou em um estúdio fotográfico com luz microscopicamente controlada, ela sabe como atender às suas necessidades e faz isso conforme o seu repertório cultural. Se isso atende ou não as expectativas de outras pessoas, é outro caso.

Enfim, tudo tem sua validade e utilidade. Isso porque contextualiza o tempo em que vivemos para as futuras gerações, que podem apreciar ou rir da nossa pretérita cara autofotografada.


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