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O que é ser fotógrafo?


Há poucos anos, um site de fotografia propôs um pequeno desafio: quem enviasse uma foto que representasse o ofício fotográfico, ganharia um livro. Além da foto (essa que ilustra o post), aproveitei para enviar um texto inspirado no passeio que tinha feito naquele dia. Pouco tempo depois, o tal site publicou meu texto, a foto e a notícia de que eu havia ganho a promoção.

Ganhei. Mas não levei.

O site não enviou o livro, culpou a editora pelo atraso e acabou saindo do ar sem explicação.

Sobrou apenas o texto, que replico abaixo:

(Detalhe: eu não trabalhava com fotografia nessa época; além disso, muito dos meus colegas viviam discutindo o que era ser "amador" e "profissional".)

Sou amador

Sou amador.

Não trabalho com fotografia e nem sei se tenho capacidade para tanta responsabilidade.

Por isso, não sei se conheço apenas uma definição para o que é ser fotógrafo, uma daquelas que reúna todas as outras em um pensamento só.

Ser fotógrafo pode ser um estado de espírito, aquela sensação que bate diante de uma cena e que nem sempre temos uma máquina à mão para registrar.

Pode ser aquela pessoa que chama a atenção de todo mundo, que atrai a indiferença dos acanhados e o ego dos desinibidos.

Talvez seja aquele que é o alvo constante das perguntas mais complexas (por que essa metalinguagem tão visceral?) e das mais simplórias (máquina de filme tem entrada USB?).

Ser fotógrafo é não fazer diferença entre o que é feio nem o que é bonito, porque cada um tem seu momento e seu valor.

É saber que, por trás de teses acadêmicas e explanações intelectuais, existe um trabalho concreto e que vai além do discurso.

É acordar cedo e dormir tarde. É medir espaços em milímetros. É contar o tempo pelo movimento do sol. É persistir na paciência e desistir da ansiedade.

É trabalhar sozinho no sol, na chuva, no frio, no seco e no molhado, na noite e no dia, na calma e no medo.

E é ter a certeza de que a foto é sua, mas que a boa imagem é universal.


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